CINDERELA
Era uma vez um homem muito rico, cuja mulher havia
falecido, deixando-lhe como companhia apenas uma filha. A garota era tão linda
quanto uma manhã ensolarada.
Mas, um dia, o tal homem resolveu se casar
novamente e sua nova esposa levou para o seu lar duas filhas de coração amargos
e impiedosos.
E, a partir deste dia, a pobre órfã começou a levar
uma vida repleta de sofrimento.
— Essa menina vai ficar na sala conosco? – disseram
as duas. — Quem quiser comer, tem que merecer. O lugar dela é na cozinha.
As duas malvadas trocaram o belo vestido da órfã
por uma roupa velha e rasgada e a levaram para a cozinha.
Ali, a pobre menina teve que trabalhar duro. À
noite, quando já não aguentava de tanto cansaço, era impedida de deitar na
própria cama: tinha que dormir na cozinha mesmo.
E, como a coitadinha vivia sempre no meio das
cinzas do fogão, as duas malvadas irmãs puseram-lhe o apelido de Cinderela.
Certo dia, o rei mandou preparar uma grande festa,
para a qual seriam convidadas todas as donzelas do país, para que o seu filho
escolhesse uma noiva. As meio-irmãs de Cinderela também foram convidadas,
e começaram imediatamente os preparativos para a grande festa. Tudo isso acarretava
mais trabalho para Cinderela, pois era ela quem tinham que passar e engomar as
roupas das irmãs.
Cinderela aprontou os vestidos e até se ofereceu
para penteá-las. Enquanto experimentavam penteados, elas perguntaram:
— Você gostaria de ir ao baile?
— Sabem que não posso ir — respondeu Cinderela, com
tristeza.
— Tem razão — disse a irmã mais velha,
maliciosamente. — Todos ririam de você!
Enfim chegou o grande dia. As irmãs se foram e a
pobre Cinderela ficou chorando desconsolada.
Mas sua fada-madrinha apareceu e, vendo-a desolada,
perguntou o que estava acontecendo.
— Eu gostaria tanto de ir ao baile... — disse
Cinderela, entre soluços.
— Como você é uma boa menina — disse a fada — , vou
ajudá-la a ir ao baile. Primeiro , corra ao jardim e traga uma abóbora.
Cinderela levou para a fada a maior abóbora que
encontrou. Então, com um toque de sua varinha mágica, a fada transformou a
abóbora numa linda carruagem.
Depois pediu a Cinderela que abrisse a porta do
celeiro. Saíram de lá quatro ratinhos, que foram transformados em lindo
cavalos.
— Agora preciso de um cocheiro – disse a fada. — Há
alguma coisa na ratoeira?
Havia uma ratazana de longos bigodes. Depois de
tocá-la com sua varinha, a fada transformou-a num imponente cocheiro.
Por último, a fada disse que Cinderela encontraria
seis lagartixas atrás do regador. Assim que a menina as trouxe, elas foram
transformadas em seis elegantíssimos criados.
— Bem, você já está pronta para ir ao baile — disse
a Cinderela.
— Mas como vou me apresentar com este vestido tão
velho?
Com outro toque da varinha mágica, os trapos que
vestia transformaram-se num vestido de ouro e prata, com deslumbrantes pedras
preciosas. A fada completou sua maravilhosa obra entregando a Cinderela um par
de sapatinhos de cristal.
Cinderela entrou na carruagem e, antes de partir; a
fada-madrinha avisou:
— Volte para casa antes da meia-noite. Se demorar
um minuto a mais, a carrugem se tranformará em abóbora, os cavalos em ratos, os
criados em lagartixas, e seu lindo vestido voltará a ser o que era antes.
— Prometo que sairei do baile antes da meia-noite —
respondeu Cinderela. E a carruagem partiu, veloz.
Quando Cinderela apareceu, lindíssima, no salão
onde os convidados estavam reunidos, todos ficaram impressionados. Ouviram-se
sussurros de admiração e todos perguntavam quem era aquela princesa
desconhecida.
O príncipe, deslumbrado, convidou a recém-chegada
para dançar. E não se separou dela a noite toda, parecia enfeitiçado.
Feliz como nunca, Cinderela perdeu a noção do
tempo, esquecendo-se completamente dos avisos da fada. E assim, ao soar a
primeira badalada da meia-noite, soltou-se dos braços do príncipe e saiu
correndo do palácio. Na pressa, perdeu um dos sapatinhos de cristal na
escadaria. O príncipe, que havia saído atrás da jovem, apanhou o sapatinho e
guardou-o com todo o cuidado.
Cinderela chegou em casa sem fôlego, sem carruagem,
sem criados e com o velho vestido de todos os dias. Do rico traje que usara no
baile restava apenas um dos sapatinhos de cristal.
Enquanto isso, o aflito príncipe perguntava aos
guardas se não tinham visto uma princesa saindo do palácio. Os guardas
responderam que só tinham visto uma moça mal vestida, que parecia mais uma
camponesa que uma grande dama.
Quando as irmãs voltaram do baile, contaram a
Cinderela sobre a linda princesa que havia atraído a atenção do príncipe.
Contaram também que o filho do rei havia apanhado um sapatinho de cristal que a
princesa perdeu ao sair correndo e que, durante o resto do baile, não fez outra
coisa senão contemplá-lo, encantado. Mortas de inveja, confessaram que o
príncipe parecia apaixonado pela desconhecida.
E era verdade, pois dias depois o príncipe mandou
anunciar em todo o reino que se casaria com a dona do sapatinho.
Começaram a experimentá-lo em todas as princesas;
depois nas duquesas, condessas e marquesas; mas em nenhuma delas servia o lindo
sapatinho de cristal,
Até que chegou a vez das meio-irmãs de Cinderela.
Fizeram de tudo para enfiar o pé no sapatinho, mas, como era de se esperar, não
conseguiram.
Então, Cinderela pediu humildemente:
— Posso experimentar?...
As duas irmãs soltaram uma grande gargalhada, mas o
fidalgo que trazia o sapatinho olhou pata Cinderela e, achando-a muito bonita
apesar dos farrapos que vestia, disse que tinha ordens para experimentar o sapatinho
em todas as donzelas. Calçou o sapato no pé de Cinderela e viu que servia com
perfeição.
A suspresa das duas irmãs foi imensa, mas foi ainda
maior quando Cinderela tirou o outro sapato do bolso e calçou-o também.
Nesse instante, a fada-madrinha apareceu e, tocando
com sua varinha mágica o pobre vestido de Cinderela, tranformou-o no mais belo
vestido de todos. Ao vê-la assim enfeitada, as irmãs reconheceram nela a
misteriosa princesa do baile, atiraram-se a seus pés e pediram perdão por a
tratarem tão mal.
Cinderela ajudou-as a se levantarem e,
abraçando-as, disse que as perdoava de coração.
Chegando ao palácio do rei, o príncipe viu
Cinderela mais linda do que nunca e deu ordens para acelerarem os preparativos
do casamento, que foi celebrado poucos dias depois com grande esplendor.
Cinderela,
que era tão bondosa quanto bela, levou as duas irmãs para morar no castelo e
casou-as com dois grandes nobres da corte.