POR QUE UMA ESCOLA TORNA-SE VIOLENTA?
Algumas escolas são historicamente mais violentas do que outras, que passam momentaneamente por essa situação. Há, portanto, violências permanentes e ocasionais, dependendo das condições internas como externas das escolas.
Encontram-se escolas seguras em locais extremamente perigosos, como uma escola pública na periferia do Rio de Janeiro, considerada privilegiada entre as demais. A justificativa dada por professores e alunos é ser ela uma escola com as dependências sempre conservadas como novas e com professores unidos em prol do ensino. Os alunos têm ambiente de amizade e respeito, por isso, ajudam na conservação do colégio. A segurança da escola é de ótima qualidade, como enfatizam os alunos. Nessa escola, há um grêmio organizado, e cada turma possui um representante e um suplente, além de um professor conciliador da turma que representa o colégio na reunião de pais. Esses têm participação freqüente nas atividades escolares.
A direção tem discurso democrático enfatizando o diálogo como forma de
interação do aluno. Os professores, também, manifestam esse sentimento
incorporando seus próprios filhos na comunidade escolar.
Outro exemplo é uma escola na periferia de Cuiabá, com vizinhança considerada perigosa, mas relativamente segura. Os alunos que a freqüentam
são moradores do bairro, assim como a direção da escola. Os alunos percebem que o colégio é um espaço de socialização onde as relações de afetividade são construídas e vividas entre professores e alunos, direção e coordenação.
A direção garante controle rígido de entrada de pessoas estranhas no
estabelecimento. Há, também, momentos em que o estabelecimento de vínculos com a comunidade traz implicações, como a necessidade de lidar com os traficantes de drogas e as gangues. A diretora de uma escola da periferia do Rio de Janeiro recorre à .política da boa vizinhança. com os traficantes, incluindo-se vários ex-alunos da escola. Os alunos afirmam que, apesar da rigidez em relação às regras de disciplina, os jovens se referem à direção com apreço. Sobre a mudança de tipologia da escola de mais violenta para menos
violenta, considera-se a atuação do diretor. Há o exemplo de uma escola de
São Paulo, localizada em um bairro operário. Segundo o diretor chamado 72
RESUMO: Violências nas escolas para trabalhar na escola considerada .o circo dos horrores., acabou permanecendo e mudando a sua imagem. Relatavam os alunos que a direção anterior não permanecia na escola, portanto não acompanhava o desenvolvimento dos alunos, muito menos cuidava do aspecto físico do estabelecimento. O diretor conta que seu principal segredo foi trabalhar em equipe com a mesma filosofia, respeitando as regras estabelecidas pela escola, bem como valorizando os alunos, resgatando a auto-estima por meio do estímulo ao diálogo. Incluiu na sua prática a conservação da estrutura física, fez-se mais presente, combinando respeito e liberdade. Hoje, a escola é uma das mais procuradas do bairro e tida como modelo.
Afirmar que as violências nas escolas representam um estado e não uma característica de uma ou de outra, ou do sistema escolar, significa assumir que essa condição muda de acordo com os processos pelos quais cada estabelecimento de ensino passa, em especial as mudanças na administração e das relações com diretores e professores. Os dados apontam que alterações feitas pela administração produziram mudanças no perfil da escola em relação à violência: o estreitamento da tolerância em relação às regras, a democratização do ambiente escolar; e melhoria e conservação da estrutura física.
A percepção do fenômeno das violências nas escolas resulta das histórias vividas e recolhidas pelos diversos atores que convivem no ambiente escolar e das relações que estabelecem entre si. Nessa medida, as violências são percebidas como um fenômeno corriqueiro no cotidiano daqueles que já vivenciaram situações ligadas a roubos, ameaças, assalto, discriminação, vandalismo, atitudes autoritárias, brigas etc. Para evitar a continuidade dessa situação, é indiscutível a necessidade de se identificarem medidas para que os estabelecimentos de ensino se apresentem como espaço seguro para seus integrantes, uma vez que a violência afeta a integridade física, emocional e psicológica de alunos, professores, funcionários e pais.
Diante desse contexto, as especificidades nacionais devem ser consideradas para o desenho de políticas públicas, as quais devem ser firmadas nas ações de preservação da violência e não se basearem em medidas repressivas. Em relação à escola, deve-se ter proposta pedagógica mais atraente à linguagem juvenil, considerando os jovens como protagonistas das políticas públicas.
Abramovay, Miriam
Violências nas escolas/ Miriam Abramovay et alii. . Brasília : UNESCO Brasil, REDE
PITÁGORAS, Coordenação DST/AIDS do Ministério da Saúde, a Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, CNPq, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS,
Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2002.
88p.
1. Problemas Sociais-Brasil 2. Violência 3. Juventude 4.Educação
I. Abramovay, Miriam II. UNESCO III. Título.
CDD362
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