SUZANA GUIMARÃES DE O. MOTTA
Garantir a aprendizagem de todos é a meta da escola e a Gestão Democrática onde a família e a comunidade local fazem parte desse processo, é um dos princípios fundamentais para que isso se concretize. Em algumas escolas a comunidade escolar participa ativamente das decisões administrativas, pedagógicas e financeiras. Outras caminham devagar, ainda não conseguem trazer os pais para dentro da escola e nem mesmo ouvir os professores.
Na escola o gestor deve usar como princípio administrativo a Gestão Democrática, o PPP que deve ser elaborado com ampla participação da comunidade escolar. A prestação de contas dos recursos da escola deve ser realizada periodicamente e todos têm que ter acesso a esta documentação em que o gestor estimulará a participação da comunidade no planejamento das ações futuras da escola e sua execução também.
A Gestão Democrática do ensino público está consolidada em leis federais, estaduais e municipais, mas, nós brasileiros, ainda temos muito a aprender como cidadãos, isso parece ser fundamental para que busquemos nossos direitos, sejam eles de participar das decisões, obter informações, saber da prestação de contas e das propostas da escola de nossos filhos ou da escola em que atuamos, mais do que um direito isto é uma responsabilidade de todos nós.
Nesse processo de democratização, entende-se que o gestor deve fazer uma re-leitura de suas atribuições, a fim de rever algumas atitudes equivocadas no trato educativo e, assim, traçar metas compatíveis com um ensino que esteja voltado ao desenvolvimento pleno das competências dos educandos. Dessa forma, é imprescindível que essa auto- avaliação sirva de embasamento para subsidiar sua atuação no sentido de partilhar saberes e poderes, uma vez que reconceituando sua prática, haverá conseqüentemente, o redimensionamento de uma gestão que concebia sua atuação no autoritarismo. Pois a autonomia da escola é, um exercício de democratização de um espaço público delegando ao diretor e aos demais agentes pedagógicos a possibilidade de dar respostas ao cidadão (aluno e responsável) a quem servem.
A autonomia coloca na escola a responsabilidade de prestar contas do que faz ou deixa de fazer, sem repassar para outro setor essa tarefa e, ao aproximar escola e família, é capaz de permitir uma participação realmente efetiva da comunidade, o que caracteriza como uma categoria eminentemente democrática.
Na Gestão democrática, a Equipe Diretiva não deve abrir mão da participação efetiva de toda a comunidade escolar, funcionários e professores desde o planejamento das ações da escola até a eleição de diretores (Dimensão Administrativa); na hora de decidir o que é mais importante para seus alunos e onde investir as verbas disponíveis (Dimensão Financeira); preocupa-se em estabelecer um bom relacionamento com a rede de ensino e buscar parcerias com outras instituições que venham a acrescentar a escola (Dimensão Relacional); no momento de construir ou rever o Projeto Político Pedagógico (Dimensão Pedagógica).
É importante salientar que atuar em conjunto exige de todos, o compromisso de estar condicionado a um permanente desejo de renovação, sendo assim, é crucial que todos os segmentos da escola revejam suas atribuições e que não as perca de vista, pois, se assim procederem, não correrão o risco de se acomodarem. Considerando esse novo perfil a ser construído, acredita-se que liderar não se restringe, tão somente, às ações meramente administrativas e burocráticas, ao contrário, a concepção que se tem a esse respeito é que a gestão que o novo milênio exige é aquela que atua em parceria com todos os segmentos que compreende a escola.
As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a análise dos relacionamentos entre professor/aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana.
Neste sentido, a interação estabelecida caracteriza-se pela seleção de conteúdos, organização, sistematização didática para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição onde o professor demonstrará seus conteúdos.
Segundo Gadotti (1999: 2), “o educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo”. Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos encarada como obrigação. Para que isto possa ser mais bem cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas ações no desenvolver das atividades.
O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção de informações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de tal, para que isto ocorra, é necessária à conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto-realização.
O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é expresso pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura. Segundo FREIRE (1996: 96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento”.
Apesar da importância da existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre professores e alunos para que se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem e a pesquisa autônoma; por outro, SIQUEIRA (2005: 01), afirma que os educadores não podem permitir que tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. Assim, situações diferenciadas adotadas com um determinado aluno (como melhorar a nota deste, para que ele não fique para recuperação), apenas norteadas pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte das atitudes de um “formador de opiniões”.
A aprendizagem não significa aprender porque alguém ensina, mas sim um processo de construção, reconstrução e de tomada de consciência do próprio desenvolvimento por parte do sujeito. Para Piaget (1983) o processo de conhecimento se constitui na ação. Assim, não é qualquer ação que leva os avanços no conhecimento, mas sim a ação significativa, que tem sentido para o sujeito, que o faz pensar sobre o que fez e sobre o próprio pensamento.
Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles. Indica também, que o professor, educador da era industrial com raras exceções, deve buscar educar para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e para a formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais.
Por isso, uma escola de qualidade deve apresentar um alto índice de aprovação dos seus alunos e esses índices equiparam-se com as provas externas; possui um quadro de professores e demais profissionais qualificados e comprometidos; possui uma vasta biblioteca; seu espaço físico é limpo e agradável, possuindo ambiência pedagógica; os professores construíram e conhecem o Projeto Político da Escola e todo planejamento é efetuado com bases nas linhas gerais do mesmo. O quadro administrativo-pedagógico é atuante e presente.
Tão importante quanto o projeto pedagógico é a administração econômico-financeira. Por isso, saber administrar a escola é uma questão de sobrevivência. O gestor deve pensar na planilha de elaboração de custos antes de dar o primeiro passo, pois isso significa elaborar um planejamento com base na realidade de cada escola, garantindo eficiência e, conseqüentemente, lucro para que a instituição possa investir no seu próprio crescimento.
O gestor deve estar ciente de suas responsabilidades no que se trata do gerenciamento do quadro de pessoal no ambiente escolar, atendendo preceitos legais e pedagógicos referentes ao planejamento, execução de gestão de material e patrimônio da escola. Para tanto, deve analisar o trabalho pedagógico realizado na escola, atualização e enriquecimento do seu currículo, pela adoção de processos criativos e inovadores, implementação de medidas pedagógicas que levem em conta os resultados de avaliação dos alunos e a atuação dos professores articulada ao projeto pedagógico e às necessidades de melhoria do rendimento escolar.
É preciso que o professor e gestor reflitam coletivamente sobre a seleção e caracterização de estratégias de avaliação diagnóstica dos alunos, com vistas a ações de planejamento para uma política educacional a favor do sucesso do mesmo.
A função das instituições escolares vai muito além do ensino pedagógico. Formar cidadãos politizados, com poder de decisão e capazes de agir e interagir no meio em que vivem deve ser a missão das escolas comprometidas com a sociedade. Mas para que isso aconteça é necessária uma ação conjunta entre todas as partes interessadas.
Além de tudo que já foi citado, os diretores escolares precisam aceitar e estar aptos para receber esse tipo de gestão, pois o envolvimento com a comunidade proporciona parcerias e resultados positivos para a administração escolar. Enquanto as pessoas desenvolvem trabalhos na escola tornam notória a valorização da educação, principalmente perante os alunos.
Para a educação ser valorizada é preciso prestar serviços públicos à população e à administração pública, mas para isso acontecer é necessário que os profissionais de educação ou magistério servidores que exercem a docência, sejam conscientes das atividades de suportes pedagógicos e os demais trabalhadores que desenvolvem atividade-meio nas instituições de ensino sejam parceiros em prol de uma educação eficiente. Estes servidores possuem direitos e deveres assegurados por lei como recebimento de vencimento adequado, jornada de trabalho regulamentada entre outras, assim também como responsabilidades e penalidades.
É importante também uma constante avaliação de desempenho destes mesmos servidores, em especial ao magistério, a fim de aprofundar o conhecimento das potencialidades e limites, pessoalmente ou em grupo, e, assim, estabelecer metas e objetivos que orientem as demandas e iniciativas quanto à organização desses profissionais de educação. Porquanto, analisar o preparo e a competência do profissional para desempenhar suas funções, assim como identificar suas necessidades de desenvolvimento, é hoje, para o gestor, um dos pontos mais difíceis da gestão escolar.
Com isso, torna-se uma necessidade a qualificação profissional, seja ela inicial ou continuada, pois a mesma dimensiona a competência requerida para que a escola desenvolva um serviço de qualidade, sendo que, o gestor elabore um plano de formação em que articule na rotina da própria escola, espaços para que essa formação se realize.
REFERÊNCIAS:
BASTOS, João Batista. Gestão Democrática. Rio de Janeiro: DP& A: SEPE, 1999.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais - 1 °e 2° ciclos, MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. SEF. Recomendações para uma política pública de ensino. Brasília: MEC/SEF, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MACHADO, M.A. M. PROGESTÃO: guia do tutor. Brasília, CONSED, 2001.
PCNEM, Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio/ Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica - Brasília: Ministério da Educação, 1999. 364 p.