Natania Nogueira
Quadrinhos são uma manifestação artística autônoma,
assim como são a literatura, o cinema, a dança, a pintura, o teatro e tantas
outras formas de expressão. São uma forma
de arte, uma mídia presente na civilização industrializada que nasceu e cresceu
como fruto da expansão dos meios de comunicação. Os quadrinhos não nasceram com
função pedagógica ou educativa, mas passaram a incorporá-la a partir do momento
que se tornaram meios de comunicação e, portanto, imbuídos de ideias, símbolos
e sentidos com o poder de formar ou reforçar opiniões.
Defender o uso dos quadrinhos na sala na escola não
os descaracterizam enquanto mídia popular. Há quadrinhos de todos os tipos que
podem desempenhar funções diversas conforme o(s) objetivo(s) de quem o
produziu. Os quadrinhos, acima de tudo, são uma forma de lazer, de diversão.
As histórias em quadrinhos são uma forma específica
de leitura, têm características próprias que lhe permitem uma interação com
leitor diferente daquela que se obtém por meio da leitura de um livro, por
exemplo. A leitura dos quadrinhos não se limita ao texto, mas estende-se à
imagem, ajudando a formar habilidades mais complexas de análise e contextualização.
São estas particularidades, dentre elas a integração entre texto e imagem, que
colocam os quadrinhos como um instrumento valioso para o desenvolvimento e
estímulo da leitura.
A necessidade de estimular a leitura é urgente. É
preciso estimular o gosto pela leitura, independente do que o leitor deseje
ler. Estamos condicionados a acreditar que existe uma “boa” leitura e que ela
está presente apenas nos livros. No entanto, a boa leitura é aquilo que o
leitor deseja ler, não importa se é uma revista em quadrinhos, o caderno de
esportes ou a revista de horóscopo. Quanto maior a frequência com que uma
pessoa lê diariamente, maiores as chances de ela desejar ler mais e de variar o
tipo de leitura.
Pesquisa recente mostra que a cada cem alunos do 3º
ano do ensino fundamental, 43 deles não são capazes de entender um texto que
estejam lendo. Os resultados da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do
Ciclo de Alfabetização) demonstram que apenas 56,1% dos alunos do 3º ano
aprenderam o que era esperado em leitura para este nível do ensino. Na rede
municipal e estadual, apenas 48,6% dos alunos alcançam os níveis considerados
esperados para o 3º ano do fundamental: 51,4 % dos estudantes não sabe tirar o
tema de um texto que leia. O Nordeste é a região com o pior desempenho: 63,5%
dos alunos da rede pública têm conhecimento abaixo do esperado.
Usar quadrinhos na sala de aula não é tão simples É
fato que uma considerável parcela dos professores ainda não está familiarizada
com o uso dos quadrinhos. Este é um agravante se levarmos em consideração sua presença
cada vez maior em livros didáticos e em avaliações como a Provinha Brasil. Segundo
Elydio Neto (2011) as escolas e a academia têm, em grande parte, dificuldade em
lidar com imagens, uma vez que, por conta da dominância do paradigma
racionalista, desenvolveu-se de que as imagens são para crianças e, portanto,
não podem ser para coisas sérias como os conteúdos escolares. Para tanto, é
preciso investir na formação, seja através de cursos de extensão, oficinas,
indicação de leituras ou mesmo compartilhado experiências nos encontros
pedagógicos. Assim como trabalhar com jornais, filmes ou TICs, trabalhar com
quadrinhos requer um mínimo de formação para que se possa explorar ao máximo as
potencialidades deste recurso midiático. A formação do professor é um processo
contínuo e que deve acompanhá-lo no cotidiano de sua vida profissional.
Algumas
considerações sobre trabalhar com quadrinhos na sala de aula
O professor Elydio dos Santos Neto (2011) oferece
em seu livro Histórias em Quadrinhos & Educação de dicas importantes para
quem quer trabalhar com quadrinhos na escola:
1. Histórias em quadrinhos podem ajudar no desenvolvimento da razão sensível e da razão simbólica;
2. Trabalhar com quadrinhos ajuda a desenvolver formas diferentes de
analisar a realidade;
3. Para trabalhar com quadrinhos é preciso conhecer a linguagem dos
quadrinhos;
4. É preciso saber escolher as Hqs que se deseje trabalhar na sala de
aula;
5. É preciso ter comprometimento pedagógico;
6. Deve-se considerar o contexto social do aluno;
7. Trabalhar quadrinhos é também estimular uma educação para uma cultura
visual;
9. Cada professor deve desenvolver sua própria metodologia;
10. É preciso formar professores para o uso dos quadrinhos.
Os quadrinhos vão garantir o gosto pela leitura? Não
se pode confirmar tal indagação. Mas, é certo que o uso dos quadrinhos é uma
excelente estratégia para se alcançar bons resultados na sala de aula. Eles são
mais um recurso e, portanto, não podem ser responsabilizados unicamente pelo
bom ou mal desempenho escolar. No entanto, a parceria entre quadrinhos e
educação podem contribuir para que os alunos desenvolvam várias habilidades,
que podem ir além da boa leitura e interpretação.
Atualmente pesquisas realizadas em vários campos do
conhecimento demonstram que os quadrinhos ajudam, inclusive, na formação de
valores e na compreensão da realidade social. Na prática, podemos hoje utilizar
quadrinhos em praticamente todos os conteúdos escolares.
Dicas de
como usar quadrinhos na sala de aula na alfabetização
Vamos trabalhar com alguns exemplos de como os
quadrinhos podem ser usados na sala de aula, em diversos conteúdos. É sempre
bom lembrar que a parceria entre quadrinhos e educação dever estar afinada com
as necessidades do professor e a realidade dos alunos. As dicas que seguem são
apenas indicações de como trabalhar o recurso e não devem limitar a
criatividade do professor.
- Uma
atividade muito usada nesta fase é a de estimular a produção de textos
preenchendo balões.
- Nas
aulas de Língua Portuguesa o professor pode trabalhar a leitura crítica e
interpretação de texto; A criatividade; Caracterização de personagens,
regionalização, ortografia; Concisão e coesão do texto; Metáforas visuais.
- Na
geografia os quadrinhos podem ser usados como complemento para o estudo de
vários temas, que vão desde os aspectos geográficos a sociais. Existem
quadrinhos que abordam, por exemplo, temas como etnia e preservação do
meio ambiente que podem ser trabalhados em geografia. A criação de
tirinhas como uma forma de fixar o conteúdo apreendido.
- Assim
como nas aulas de Geografia, os quadrinhos podem ser utilizados nas aulas
de história para introduzir os mais variados temas. Há ainda um
diferencial que é a produção de quadrinhos históricos ou com temáticas
históricas que permitem ao professor deste conteúdo um uso mais abrangente
do recurso.
- Quadrinhos
nas aulas de Ensino Religioso e Filosofia Quadrinhos podem ser usados em
aulas de Ensino Religioso e Filosofia como forma de introduzir e debater,
por exemplo, valores morais e discussões éticas muito resentes em
quadrinhos de super-heróis norte-americanos, muito populares entre os
jovens.
- Algumas
narrativas envolvem elementos misteriosos, desconhecidos, mitológicos,
fantásticos, sobrenaturais, e tornam-se, justamente por esse “ar de
mistério”, interessantes de serem narradas e fáceis de serem
“cientificamente” analisadas. Assim, há várias estórias que carregam um
senso de moralidade, ética, responsabilidade pessoal e social, justiça,
etc.
FONTES
UTIZADAS
MORIS, Matt, MORRIS, Tom. Super-heróis e a filosofia: verdade, justiça e
o caminho socrático. São Paulo, Ed, Mandras, 2005 Questões de ciências da
natureza & matemática. Disponível em: http://www.cbpf.br/eduhq/html/questoes/questoes_uerj.
Acesso em 29/08/2012 .
RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro (orgs.) Como usar histórias em
quadrinhos na sala de aula . São Paulo: Contexto, 2004.
REBLIN, Iuri Andréas. A teologia e a saga dos super-heróis: valores e
crenças apresentados e representados no gibi. Protestantismo em Revista, São
Leopoldo, RS, v. 22, maio-ago. 2010. Disponível em http://www.academicos.gibihq.org/artigos/reblin.pdf.
Acesso em 05/09/2012.
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